2020-12-31
De entre o grupo de ativistas feministas que integraram a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, também merece destaque Maria Carolina Frederico Crispin, mais conhecida como Maria Veleda, professora, escritora e libertária. As suas ideias radicais e espírito revolucionário levaram alguns dirigentes do Partido Republicano a considerarem-na como uma representante do feminismo proletário, conotado com a ala esquerda que preocupava os moderados, como António José de Almeida.
Maria Veleda tornara-se, muito cedo, numa mulher emancipada. Nascida no Algarve, em 1871, numa família da classe média, enfrentou dificuldades ainda jovem, quando, por morte do pai, se viu obrigada a trabalhar para ajudar os familiares. Tornou-se professora do ensino primário, lecionando em várias localidades algarvias, com recurso a métodos inovadores. Em 1905, rumou a Lisboa, com a mãe, o seu filho Cândido e um órfão, que adotara. Apesar de enfrentar problemas de saúde, conseguiu dar aulas num asilo a troco de comida. O filho adotivo trabalhava, mas pouco ganhava, e a mãe foi viver com outro filho. Apesar do infortúnio, Maria Veleda foi corajosa e resiliente. Pouco antes, iniciara a sua carreira como escritora e, pouco depois, começou a dar aulas num colégio da Baixa lisboeta. Há muito colaborava com a imprensa, colaboração esta que se estendeu aos jornais O Século e a Pátria. Ao ser convidada para lecionar no Centro Escolar Afonso Costa, a sua vida melhorou, aproximando-a dos meandros políticos republicanos. Além de começar a colaborar em iniciativas do Partido Republicano, afirmando-se como oradora num universo predominantemente masculino, ganhou visibilidade como feminista, integrando, por exemplo, com Ana de Castro Osório, o Grupo Português de Estudos Feministas (1907-1908) e iniciando-se na maçonaria. O seu perfil combativo granjeou-lhe críticas e inimizades, chegando a ser condenada por abuso de liberdade de imprensa. Nada disto a impediu de defender os seus ideais e de lutar pelas causas em que acreditava. Uma delas era a luta pela emancipação da mulher, em particular, a mulher do povo, operária e desafortunada. Maria Veleda defendia a educação feminina, o antimilitarismo e o associativismo das mulheres. São suas as seguintes palavras: “Unamo-nos — não para guerrear o homem, não para nos subtrairmos às leis da natureza, não para nos masculinizarmos (...); mas para cooperarmos com o homem na implantação da liberdade, e contribuirmos para a felicidade das nossas filhas, inteiramente desviadas do preconceito, do erro, da subserviência a uma religião (...)”, (Samara, 2007:147). Maria Veleda deixou as suas Memórias (publicadas em 2011) e da autoria de Natividade Monteiro ficou a sua biografia: Maria Veleda (1871-1955) – Uma professora feminista, republicana e livre-pensadora. Caminhos Trilhados pelo Direito de Cidadania (2012).
||Susana Serpa Silva
Asas da Igualdade, 31 dezembro no Açoriano Oriental
A partir daqui pode ver Nas Asas da Igualdade: edição mensal da Umar-Açores e publicação no Açoriano Oriental.
A página Nas Asas da Igualdade foi lançada pela UMAR-Açores, integrada no projeto com o mesmo nome, desenvolvido em 2007 Ano Europeu da Igualdade e prossegue desde então até aos nossos dias
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